Por
Edoardo Pacelli
Escolha entre continuidade autoritária de Erdogan ou democracia com Kılıçdaroğlu pode definir futuro do país e das relações com a Europa.
Em 14 de maio, quase 62 milhões de cidadãos turcos estarão elegendo 600 deputados, o presidente e, potencialmente, vários vice-presidentes. Entre os quatro
candidatos, os dois mais importantes são Recep Tayyip Erdoğan, que governa o país há duas décadas, e Kemal Kılıçdaroğlu, candidato da principal aliança da oposição, a chamada Aliança da Nação. Mas, enquanto a reeleição de Erdoğan pode afastar o país da UE, Kılıçdaroğlu pode colocar a Turquia de volta no caminho da democratização.
De acordo com as últimas pesquisas, Kılıçdaroğlu lidera com cerca de 42,6%, enquanto a Aliança do Povo de Erdoğan está com 41,1%.
Relações UE – Turquia
O processo de adesão da Turquia à União Europeia está atualmente parado. No entanto, isso pode mudar dependendo dos resultados das eleições. De fato, se a
oposição ganhasse as eleições parlamentares e presidenciais, a restauração da democracia e das liberdades fundamentais seria a prioridade. Esse cenário abriria
um espaço de diálogo há muito bloqueado.
No entanto, algumas questões permanecem controversas, entre elas o acordo UETurquia sobre imigração. Ao contrário de Erdoğan, o líder da oposição não está
satisfeito com o apoio da UE baseado apenas em ajuda financeira e pede uma partilha justa dos encargos. Assim, caso a oposição vença, a renegociação do acordo migratório pode ser uma das opções em cima da mesa.
No cenário oposto – ou seja, se Erdoğan ganhasse as eleições parlamentares e presidenciais – seu estilo autoritário de governo se consolidaria, restringindo ainda mais a liberdade de imprensa, os direitos humanos, a separação de poderes e o estado da democracia na Turquia, em geral. O desacordo com a UE e a retórica antiocidental ainda dominariam a política externa da Turquia. Em caso de reeleição, no fundo, as relações continuariam turbulentas.
Caso a oposição vença o Parlamento, mas Erdoğan continue como presidente, os choques institucionais entre a presidência e o Parlamento podem levar à paralisia política e, talvez, até a distúrbios nas ruas. No que diz respeito à política exterior, as percepções externas negativas provavelmente permaneceriam inalteradas. No entanto, a União Europeia deve estar pronta para acolher qualquer esforço de democratização no país, pois não acolhê-lo seria visto como uma punição injusta dos cidadãos que votaram pela democracia.
Finalmente, no cenário em que Erdoğan perde a presidência, mas mantém a maioria parlamentar, Kılıçdaroğlu ainda pode introduzir reformas institucionais e
econômicas, graças ao enorme poder concedido ao presidente. Mesmo neste cenário, pode surgir um conflito constante entre o Parlamento e a presidência, o que pode atrasar o processo de tomada de decisão. Isso, por sua vez, enfraqueceria as relações com a UE.
A UE deve estar preparada para os desafios futuros. Até agora, o medo da chantagem de Erdoğan, ligada à liberação dos fluxos migratórios de refugiados sírios para a EU, impediu Bruxelas de exercer pressão sobre ele. No entanto, ao fechar os olhos às suas práticas autoritárias, a UE minou o futuro democrático do país. Essa abordagem míope, por sua vez, levou os relacionamentos existentes a um ponto mais frágil do que já eram.
Para concluir, as áreas em que a Turquia e a UE terão de trabalhar juntas não dependerão dos resultados das eleições. Mais cedo ou mais tarde, Bruxelas terá que se envolver com Ancara para a segurança das fronteiras europeias. No entanto, a UE deve promover os valores democráticos independentemente, mesmo em confrontos diretos com um Erdoğan reeleito, pois já ficou evidente o quanto a cooperação baseada, apenas, em interesses transacionais pode rapidamente se transformar em confronto.
Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da
revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.
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